Lacieverso

fogáreu

brasas – 3

Com o coração ainda pesado no peito, Faryeh continuava sem acreditar naquela reviravolta. Era mesmo Ehre, ali, pela primeira vez em anos. O corpo físico do irmão tocando o seu, abraçando-o e o lembrando de que sim havia uma casa ali para ele. Mas…
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— Príncipe… herdeiro? — perguntou.
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— Sim. — Ehre parecia animado, mas havia um brilho de melancolia no olhar. — Irei desposar a Princesa Leise. O trono passará para mim, quando os Deuses chamarem Vossa Majestade para reinar sobre a Morte.
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— Ainda vai demorar muito, Ehre — o Rei esbaforiu de sua cadeira, terminando de sorver o líquido escuro de seu cálice. — Ainda tenho muito tempo na Vida, especialmente porque você conseguiu exterminar o general não-humano. Não é um feito para poucos. — O sorriso de Ehre morreu nos olhos, apesar dos lábios continuarem a exibir os dentes brancos.
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— Ah, um infeliz acidente. Ele praticamente se jogou aos meus pés. — E sorriu. — Um acidente que me trouxe até aqui.
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— De fato, sua alcunha de Ehre, o Sortudo, não foi ganha por menos. — E o Rei se levantou, indo em direção ao corredor dos quartos. — Ehre, cuide de seu irmão. Ele está fedendo a um estábulo inteiro. — O comentário trouxe mais rubor nas bochechas de Faryeh, e Ehre, em troca, deu mais alguns tapinhas no ombro de seu irmão caçula.
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— Vamos, meninas, cuidem dele.
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Não viu a quem o irmão se referia, mas algumas moças surgiram, todas com as mesmas roupas, e mãos apressadas o puxaram para o interior. Ainda deu uma última olhada para trás, para ver o irmão rir da expressão contrariada e de nojo de sua noiva. Princesa Leise certamente estava longe de ser a fã número um de Faryeh.
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Não teve muito tempo para pensar, enquanto era arrastado por corredores compridos e escadas em espiral. As moças tinham um agarrar forte, e ele se desesperou um pouco. Teria seu irmão enlouquecido?
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— Para onde estamos indo?
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Mas nenhuma delas respondeu, até chegarem em uma grande porta dupla de madeira contra as pedras rústicas. Ao abrirem, Faryeh conseguia sentir o vapor quente tocar sua pele, aliviando o frio que o inverno proporcionava. Mas era um pouco quente demais. Ao estabilizar de sua visão, Faryeh finalmente entendeu: aquela era uma das termas subterrâneas que apenas ouvira boatos que habitavam os calabouços do castelo.
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— A água… é quente mesmo?
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— As pedras aquecem a água — uma delas se virou para explicar. — Agora poderá aproveitar de banho quente todos os dias do ano, jovem príncipe.
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— Isso parece incrível…
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Era algo impensado para Faryeh a possibilidade de esquentar água sem o crepitar de fogo. Recordava-se de sua mãe com as mãos calejadas de ficar na cozinha e banhos conjuntos e de Ehre reclamando que a água já estava gelada quando chegava sua vez. Seu pai era o último sempre a tomar banho, dizendo que estar perto da fornalha já o esquentava por completo, e precisava relaxar com um banho gelado. Aqueles dias pareciam muito atrás, e mesmo a morna aura das termas era aquém ao calor que existia na ferraria.
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Faryeh engoliu em seco.
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— Podemos começar, jovem príncipe?
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— Começar?
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A moça apontou para suas roupas, e sua cabeça pendeu um pouco, sem entender.
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— Suas roupas. Podemos tirá-las?
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— O quê?!
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— Não se costuma tomar banho nas termas com roupas, e especialmente um tecido tão esfarrapado quanto as suas… O jovem príncipe pode passar mal pelo calor — ela explicou, mas Faryeh apenas arregalou os olhos.
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— Vamos, não temos o dia todo — a segunda que o acompanhava reclamou, e mãos fortes começaram a puxar suas roupas por cima de sua cabeça, tirando os trapos e revelando a pele marrom cheia de marcas. Faryeh tentou protestar, especialmente por odiar se ver nu, mas as duas servas o puxaram, e em poucos segundos, Faryeh estava sendo esfregado, banhado e perfumado. Depois da primeira sessão de espuma, lhe foi permitido entrar nas águas quentes, e ele se derreteu contra elas.
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Isso realmente tinha acabado de acontecer? Acordara sendo humilhado e jogado bosta, e agora, era o príncipe herdeiro? Era mesmo isso que sua vida se tornara? Ele realmente poderia tomar um banho naquelas águas todos os dias? Era algo tão absurdo que ele nem conseguia cogitar o pensamento. Afundou o rosto, permanecendo apenas com os olhos para fora da água, sentindo o calor penetrar sua pele, esquentar seus músculos e relaxá-los, enquanto seus ossos se aqueciam também. Era como se o inverno lá fora não importasse mais.
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Uma das servas chamou sua atenção, e Faryeh a viu sentar-se na beirada da piscina, uma escova de marfim e outro frasco de vidro com um líquido colorido dentro. Faryeh nadou até ela, observando seu rosto por enfim. Ela tinha um rosto fino e um nariz arrebitado, e o hábito em sua cabeça o impedia de ver seu cabelo por completo, mas os fios em sua testa eram avermelhados, quase um cobre alaranjado. Sua voz ecoou contra as paredes de pedra.
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— Venha cá, jovem príncipe. Irei desembaraçar seus cabelos.
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Fez como foi pedido, e sentou-se de costas para ela. Ainda sentia um rubor crescente, tanto pela quentura da água, quanto pelo fato de estar nu, mas o toque gentil de suas mãos enquanto molhava seus cabeços castanhos, desatando nó a nó, o produto ajudando a perfumar e desembaraçar os cabelos. Era um carinho gostoso que lhe dava vontade de fechar os olhos, e adicionado ao calor da terma, muito confortante.
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— Desculpe-me, esse tempo todo mal falei uma palavra… É que é tudo tão novo! — Ele se virou para encará-la brevemente. — Qual é o seu nome, posso perguntar?
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A serva sorriu.
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— Kalila, mestre. E aquela mal-humorada é Heika.
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Ah… demoraria para se acostumar com o fato que agora tinha servos. Voltou a ficar quieto, apenas o crepitar da água e o som da escova no ar, até que ela abriu a boca de novo.
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—  Essas marcas, jovem príncipe…
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— Sim? — Sabia que ela tinha encarado as cicatrizes, que eram quase como tatuagens. Seu corpo inteiro era desenhado por manchas pretas que tinham início de seu peito e se espalhavam como asas por seu peito, suas costas e braços. Faryeh em si não se importava muito com elas, mas os olhares que recebia por conta delas o faziam detestá-las. Não era por menos que aquilo chamara a atenção da serva, mas por todo seu histórico, Faryeh já esperava a coça.
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— São de nascença?
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— São sim. Desde que eu era um bebê tenho estas marcas.
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Mais alguns segundos de silêncio, hesitação.
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— Elas… doem?
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— Não, não. — Apenas em sonhos, quis complementar. Mas aquele detalhe fá-la-ia vê-lo como fraco, ou pior, com dó. — Apenas são um pouco sensíveis.
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— Ah… Que bom então. São profundas… mas estranhamente belas, não?
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Faryeh ficou em silêncio, enquanto sentia o carinho em sua cabeça como um afago, e permitiu-se derramar as lágrimas pelo seu passado, sabendo que o futuro poderia ser igualmente assustador, mas ao menos, ele não estava mais sozinho.
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Acho que todos nós podemos nos relacionar com o alívio de reencontrar algo precioso… Agora Faryeh não está mais sozinho! E essas termas, hein? A pergunta de hoje é se vocês gostariam de dar um pulinho nessas águas quentes hehe

Lembrando que dá pra ler adiantado no meu apoia.se e no meu site!

Nos vemos hoje ainda, no próximo capítulo!

Lacie

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Alexia
Alexia
26 de maio de 2025 09:09

Queria eu acordar magicamente sendo herdeira