Lacieverso

capítulo 5

flutue

Sexta-feira chegou, enfim. E meu estômago deu várias voltas; pensava e repensava se eu tinha tomado a decisão certa em mandar mensagem para o tal de Alex. Porque não foi somente uma mensagem aleatória.

Foram várias.

A madrugada se tornou dia aos poucos enquanto eu ainda mandava mensagens para ele. Conversamos sobre várias coisas; no começo, apenas para passar o tédio. Ao menos, era essa a minha desculpa. Apesar de ainda ter recebido duas mensagens bem convidativas de Kurt, eu ainda queria evitá-lo. E Alex parecia uma perspectiva ainda melhor. Ele era, simultaneamente, interessante e ouvinte. Não me forçou a falar sobre o que aconteceu naquele dia entre nós, mas, ao mesmo tempo, não me deixou afogar nos sentimentos que me levaram àquela ponte em primeiro lugar. E mesmo quando eu parei de responder, ele mandou um gif bonitinho de gatinho, me desejando uma boa noite, apesar do fato de que dia já estava claro no céu.

Fofo.

Ou era a carência.

Por isso confirmei pela manhã o encontro. Não costumava sair com a mesma pessoa duas vezes, ainda mais seguidas (Kurt sempre era a minha exceção), mas… tinha eu saído com ele uma primeira vez? Tínhamos apenas dormido juntos, e ele tinha me rejeitado. Ainda contava aquele encontro como uma “primeira vez”. E depois iria decidir, a depender da qualidade dele na cama. Ainda queria saber qual era o mistério daquela tatuagem nas bochechas. Será que ele teria mais alguma…? Anotei na minha grande lista de afazeres descobrir. Esperava que o que diziam sobre pés grandes também se aplicasse, o homem era enorme…

Quando me olhei no espelho, reparei no meu sorriso leve. Seria um bom dia, decidi.

Me vesti de acordo. Uma calça jeans de lavagem escura apertada, que evidenciava minha bunda, um cropped branco, minha jaqueta vermelha e acessórios diversos. Brincos, anéis, pulseiras. Eu iria com tudo para conquistar esse boy. Ele era bonito demais para deixar a oportunidade escapar.

Uma vez arrumado, eu segui pelo corredor, segurava meus tênis em uma mão, e com a outra mandava uma mensagem para Alex. Havia combinado de avisá-lo antes de sair de casa, para nos encontrarmos no caminho, quando ouvi as vozes.

Eu sabia que meu irmão estava em casa. Desde quando retornei, mal lhe dirigi duas palavras. Não que Chase não estivesse acostumado a preencher silêncios com sons de televisão, pipocas estourando, e a presença dele.

eu te amo, jesse

suspiros contra a boca sedenta

Eu o odiava. Quanto mais me aproximava, mais as memórias vinham, intrusivas, de algo ido e bonito.

— Tudo bem continuar?

— Sim…

os lábios partidos e rubicundos

sua mão em meu peito

Claro que Chase aproveitaria todas as chances que nossa mãe não estivesse em casa para trazê-lo. Não era diferente de mim nesse sentido, apesar de eu preferir um cardápio mais variável de homens. Mitchell era o único ficante premium de Chase — que tinha passe livre na nossa casa, porque ele era nosso amigo de infância.

As lembranças vieram como navalhas em minhas mãos, o momento em que o conhecemos tão vívido quanto o presente; o sol do dia caía sobre os nossos ombros e aumentavam nossas sardas; os adultos insistiam para que passássemos protetor solar, um cartaz perto da mesa de comida anunciava que o número sem fim de convenção de médicos e enfermeiros estava acontecendo. Mitchell era mais velho que nós por dois anos, no entanto, não queria dizer que ele era mais alto que eu e Chase aos onze. O ajudante quase nos barrou de usar o brinquedo, menos por nossa altura de criança e mais pelo estado precário que ele estava. Eu decidi que ficaria muito melhor na parte mais rasa da piscina, apesar de saber nadar, enquanto Chase queria se aventurar. Proibições não eram um impedimento para ele. Naquela época, não pensávamos em consequências.

Chase e Mitchell seguiram uma estranha rivalidade. Era antipatia logo de cara, Chase veio a me explicar alguns anos depois. Ele simplesmente não gostava dele, algo em seu olhar o enervava.

Em retrospectiva, eu devia ter imaginado.

Os dois brigaram o dia inteiro. Primeiro, os funcionários tentaram separá-los, contudo, depois de nossos pais simplesmente não ligarem, eles desistiram. Naquela rivalidade estranha, os dois imperavam. Especialmente quando quiseram subir no tobogã que caía diretamente na parte funda da piscina. Os dois se encararam e decidiram que não iriam esperar pelo outro; e, antes que o funcionário responsável pudesse intervir, os dois desceram pelo tubo juntos, cabeça adentro, e se engalfinharam no processo.

Eu, na piscina, só pude ver o sangue subir na água, enquanto os dois buscavam o ar. O pânico surgiu ao ponto da festa ser encerrada para nós, que ganhamos uma visita ao hospital. Meu irmão ganhou sete pontos na cabeça, uma cicatriz, e um amigo para a vida toda.

E eu? Um problema.

por favor, não chore

eu te amo, chase

Cheguei no topo das escadas. A visão que eu recebi era caseira. Os dois estavam ali, no sofá, de shorts apenas, abraçados. Uma tragédia. A luz da televisão exibia um filme caseiro, ou seria um seriado? Não importava. As mãos deles estavam ocupadas com coisas que não eram a bacia de pipoca na cômoda a sua frente.

Um sentimento conhecido subiu à garganta, e eu corri escada abaixo, com a intenção de sair, mas eles notaram a minha presença.

— Jesse…

Não falei nada, e continuei indo em direção à porta. Nem olhei mais para eles, mas vi quando Chase se levantou e foi até mim. Eu não queria migalhas. Não queria olhar naqueles olhos tão parecidos com os meus, ver aquele rosto que era meu espelho, em exceção à pinta perto do olho direito, e esperar que tudo ficasse bem.

Porque não ficaria.

Minha respiração acelerou.

— Você vai sair?

Não respondi, e me sentei no pequeno batente.

— Pra aonde vai?

— É da sua conta? — Minha frase saiu rápida e curta.

Fôlego me faltava. Apenas queria sair. Eu precisava sair de imediato.

Precisava de ar.

— Jesse…

— Tchau, Chase.

Calcei meus sapatos de qualquer maneira e fechei a porta atrás de mim, sem olhar para o namorado do meu irmão, que apenas disse:

— Bela conversa que vocês dois tiveram. Achei que vocês dois tinham se entendido…

— Cala a boca, Mitchell.

— Venha calar.

Eu não precisava estar presente para imaginar o resto, e enquanto colocava meus fones, rezava para não precisar mais presenciar aquilo.


Corri.

Quando cheguei ao ponto de ônibus, estava completamente sem fôlego. As pessoas me olhavam como um maluco, mas eu não me importava. O sangue bombeava nos meus ouvidos. Estava vivo.

Esperei mais alguns minutos, e o carro apareceu. Sentei-me nas cadeiras mais altas do fundo, sentia meus pés balançarem e me recompus. Recostei a cabeça no vidro; esperei o tempo passar, e tentei não pensar em nada e em tudo ao mesmo tempo.

supernovas

Quando cheguei na estação, continuei em silêncio. Não olhei para ninguém. Sequer interagi, passava por elas, e existia no mar de pessoas. Mais uma estrela naquele firmamento.

— Jesse!

A primeira coisa que notei foi seu sorriso. Como se seu rosto se iluminasse por inteiro. Seus olhos verdes foram de preocupados, para se encontrar com os meus e brilharem. Tudo naquela presença em frente ao pequeno café se destacava da multidão, como se, pela primeira vez, visse em cores. Claro, a altura ajudava, assim como os cabelos ruivos flamejantes, que estavam domados em um rabo de cavalo; e céus, como ele parecia sexy naquele penteado. A tatuagem de “Ás” no rosto se destacava nas maçãs do rosto; e, por causa do frio, estas estavam um pouco coradas e firmes. Os olhos verdes tinham um pouco de maquiagem… ele parecia estar arrumado. Até as roupas que ele vestia pareciam melhores do que as que ele usara durante a aula. Era uma camisa simples, branca, com uma de flanela entreaberta por cima, que combinava com seus olhos verdes brilhantes. Muito gato, decidi. A camisa branca valorizava o corpo esguio, que eu queria explorar; e pensei que era uma pena nós não termos nos encontrado diretamente na casa dele. Poderíamos ter pulado muitas etapas.

Mas o rapaz queria chocolates e velas, aparentemente. Alguns queriam um pouco de romance antes do feito, e eu entendia aquele lado. Nem todo mundo podia ser como Kurt.

Meu sorriso aumentou e acenei para ele, pronto para atacar. Aquela noite seria ótima…

Era minha previsão, até notar uma pessoa ao seu lado. Era alguém muito bonito: cabelos lavanda, raspado nos lados, um cardigã enorme gráfico de uma banda cobria o corpo, leggings pretas e tênis branco completavam o visual. Os olhos de mel encaravam a multidão, assustados; e, de vez em quando, olhavam de soslaio para Alex, como se quisesse assegurar que ele não fugiria.

Eles estavam de mãos dadas. Pisquei um pouco, talvez fosse um truque de luz.

Claramente de mãos dadas.

— Jesse, aqui! — Ouvi de novo, mas estava pronto para dar no pé.

Meu sorriso morreu mais um pouco no rosto. Droga, não dava para simplesmente fugir, não dava? Eu não me metia com caras comprometidos. Muito menos trisais. Será que tinha dado match naqueles perfis de casais?

Se era comprometido, por que Alex havia me chamado para sair?

O pânico começou a subir pela minha garganta, novamente tornando difícil respirar. Estava cada vez mais tonto, porém, mesmo assim, meus passos me levaram a ele, apesar da minha vontade de sumir. O que fazer? Dar no pé naquele momento, ou dar um fora no rapaz? O namorado dele ao menos sabia que tínhamos passado a noite toda flertando pelo celular?

Ele me alcançou, ou fui eu quem chegou próximo primeiro?

— Jesse, que bom que você veio.

Ele estava tão perto. Com uma expressão tão familiar, mas igualmente inalcançável. A decepção me atingia com pontadas de frio no interior. Ele era apenas mais um desapontamento.

Desses, eu estava cheio. Ao menos, esperava dar uma foda naquela noite.

Eu sorri, apesar de tudo.

— Oi, Alex.


O nome dele era Dave Collins, e ele era um problema.

Eu o detestei de início. Havia algo nele, além do olhar assustado, que me embrulhava o estômago. A mão de Alex conectada a do estranho nunca vacilou. Desde que entramos na cafeteria — e eu nunca soube o motivo pelo qual eu concordei em entrar, e não dei uma desculpa qualquer para escapar… talvez fosse o choque, ou puro masoquismo —, eu desconfiei do rapaz. Era o porte, talvez, de seus ombros, como eles estavam tensos, o sorriso vacilante em seu rosto. O modo como ele tentava me incluir em sua conversa.

Mas foi, definitivamente, o modo como ele fez o pedido.

— Um frappuccino de caramelo com chantili extra pra mim — Alex disse, com energia. Dave estava logo atrás, enquanto eu estava ao seu lado. — O que vocês vão querer?

— Um pequeno sem açúcar pra mim — pedi, porque eu não tinha tido minha dose de cafeína do dia.

— Um… mocca… com… — Olhei para o rosto de Dave, que estava extremamente vermelho. Ele não encarava o funcionário do estabelecimento, que parecia muito paciente. — Com extrato de… avelã…

— Dave, não é? — O funcionário o reconheceu, e as orelhas do dito cujo ficaram ainda mais vermelhas. — Deixa que eu faço o pedido dele — falou para a outra funcionária. — É um pedido especial. — E piscou para ele.

Dave correu para trás de Alex.

Aquele casal estava cada vez mais estranho. Seria a tal não-monogamia? Eu não costumava me relacionar mais de uma vez com uma pessoa para ser considerado uma relação…

E o que quer que eu tivesse com Kurt, não era uma relação para começar.

Me sentia cada vez mais confuso. Então aquele Dave Collins estava interessado no barista. Mas então por que ficar de casal com Alex? Estaria Alex interessado em Dave, e por isso não reparava nas investidas que o outro fazia no barista? Ou ele tinha intenção de traí-lo? Alex não podia ser tão idiota.

Sentamo-nos em um dos cubículos e fiquei de frente ao ruivo, enquanto ele sorvia do seu praticamente sorvete, com o chantili alto, que borrou o canto de seus lábios. Droga. Eu ainda sentia desejo por ele, porém, teria que reprimir o sentimento. Eu simplesmente não destruía relacionamentos.

Não mais ao menos.

Meu olhar caiu de novo sobre as mãos entrelaçadas, mas, dessa vez, Alex notou meu desconforto.

— Ah, isso? Não se preocupe.

— Não estou preocupado. — Disfarcei bebericando do meu café.

Aquela marca era horrorosa. Eu fazia um café bem melhor do que aquilo.

Para a minha surpresa, quem falou foi Dave.

— Eu e Alex não estamos namorando se é o que está pensando. Ele apenas… me ajuda.

— Ajuda?

— Com as coisas. — Ele deu de ombros. — Com a vida…

Eu ergui uma sobrancelha. Alex interveio:

— Dave tem agorafobia. Ele não gosta de multidões, nem de sair de casa em geral. Muita ansiedade. Sair comigo ajuda muito, já que me conhece desde sempre.

— Andar de mãos dadas também?

Aquilo não pareceu constranger nenhum dos dois.

— É um hábito. — Alex deu de ombros. — Desculpe-me se passou a impressão errada…

— O que Alex quer dizer — Dave interveio, parecia relaxar, enfim, na minha presença — é que ele está completamente, absolutamente, e plenamente, solteiro. E em necessidade de uma foda, então se sua bunda estiver disponível…

Alex quase morreu engasgado.

— Dave!

Dave tinha um sorriso de aprovação, que não conseguia disfarçar apenas bebendo do café com chocolate quente. Bem, era um aliado, apesar de improvável. Eu queria dar para Alex, mas… esperava que eles não esperassem por mais. Seria apenas uma noite. Aliás, não era estranho apresentar sua ficada de uma noite para seu melhor amigo?

Expectativas desleais.

Dave piscou para mim, levemente traquinas, e se levantou, deixando a mesa, e a mão de Alex, livres.

— Estou indo.

— Está na hora, não é? — Alex olhou as horas em seu celular, que ainda tinha a tela rachada. — Precisa que eu vá com você?

— Não, fique aqui com Jesse. Eu volto daqui a pouco. Não vou atrapalhar mais o date.

Eu não sabia do que os dois falavam, mas Dave inspirou profundamente, e saiu da cafeteria, nos deixando à sós. Eu encarei Alex, que apenas olhava Dave sair porta afora, e ele se virou para mim.

— Dave tem uma consulta, deve voltar em uma hora.

— Consulta? De quê?

Alex olhou mais uma vez para a tela rachada do celular e apenas sorriu.

— Não se preocupe. Não é nada grave. É de rotina. Ele vem toda semana.

Ah. Uma consulta psiquiátrica então.

— Eu fico feliz de verdade que você aceitou meu convite, Jesse. Mesmo. Eu queria conversar com você.

— E não conversamos a madrugada inteira? — provoquei.

— Não cara a cara. Direito, assim.

— É verdade. Em realidade, gostaria de lhe fazer um pedido.

Eu vinha pensando naquilo. Desde a primeira mensagem, desde que decidi vir àquele encontro. Alex me olhou sério, e depositou o copo de volta à mesa.

— Claro que pode.

— Gostaria que esquecesse aquela noite. Que nós começássemos do zero a partir de hoje. Como se eu fosse um estranho que tivesse vindo à sua mesa, pedido uma bebida e te paquerado por seu número apenas neste café, porque…

Porque aquela noite foi uma merda, era a verdade não falada de meus lábios. Não queria me lembrar, apesar do hematoma já estar um pouco menos roxo, e arder menos quando eu tomava banho.

E era porque… eu queria conhecê-lo melhor.

Tinha aquela pequena estrela em meu peito, afinal.

Alex pareceu pensar um pouco, bebeu do copo e o levou de volta à mesa. Aqueles segundos de silêncio foram tortuosos, no entanto, eu estava preparado para uma rejeição. Ou pior, para que ele perguntasse o que eu estava fazendo naquela ponte.

No fim, não importava se ele aceitasse ou não. Alex não era especial, eu podia achar outra pessoa com facilidade. Ele era apenas mais um no mar de tantas possibilidades, mas… por que então eu prendi a respiração antes de ele responder?

— Certo — ele acatou. — Então, sr. estranho, poderia me dizer seu nome?

E estendeu a mão para mim para que eu o cumprimentasse.

Ainda fiquei parado alguns segundos, surpreso.

— Você não vai perguntar nada? Você não se importa?

— Bem, não tenho como me importar com pessoas que não conheço. — Seu sorriso era misterioso, assim como ele. A sensação de alívio que me atingiu percorreu todo meu corpo, mais rápido que um orgasmo. — Qual o seu nome, sr. Estranho?

E eu sorri estendendo minha mão para pegar na dele.

— Você que é o estranho, Alex. Meu nome é Jesse Bennett.

— Jesse Bennett, meu nome é Alex Morris. Prazer em conhecê-lo.


Terminamos as bebidas e uma conversa animada se instalou na mesa. Nem vi quando dez minutos se tornaram meia hora, e meia hora se tornou uma hora inteira.

— Então você se tornou modelo vivo por acidente?

— Acidente é uma palavra muito forte. Eu diria que indicação seria mais correto. — Foi um dos meus casos que me indicou, acho. Não lembrava qual deles, no entanto, todos se misturavam nos lençóis de minhas memórias.

— Devo dizer que você leva jeito para coisa. — Alex riu, me deixando um pouco embaraçado.

Eu levei uma mão para os cabelos e ajeitei minha franja, que insistia em cair nos meus olhos.

Droga. Aquele homem insistia em ser bonito. E, ainda por cima, deveras agradável. Fazia muito tempo que eu não apreciava uma boa conversa. Em geral, eu partia para a parte da boa foda. Ou nem isso. Eu costumava me contentar com bem pouco.

Mas Alex Morris…

Me inclinei mais contra a mesa, me derretendo contra ele. Meu pé tocou de leve contra sua perna, e ali fiquei.

— Então Dave é escritor?

— Sim. Ele está cursando Escrita Criativa. Está me enlouquecendo com um tal de desafio mensal, mas eu sei que ele conseguirá se sair muito bem.

— Ah, acho que sei do que está falando. Como você…

Queria perguntar “como você o conheceu?”, inquerir mais sobre aquela amizade estranha, mas a mão de Alex tocou mais uma vez o celular, e visualizou as horas.

— A consulta de Dave deve estar acabando — ele anunciou, e deu fim àquele encontro.

Eu estava interessado no que faríamos a partir dali, mas fiquei calado. Normalmente, era o proativo da relação, contudo, havia algo na situação que me fazia temeroso. Que ele desse as cartas a partir dali, porque eu ainda não descobrira qual era o seu jogo. Queria que ele desse o primeiro passo naquele gelo fino…

Para saber se podia me jogar naquele abismo.

Eu era um covarde da pior estirpe. E assim como modelar, fingir era algo que fazia muito bem. Eu cativava as pessoas, e antes que elas notassem as ranhuras da minha máscara, eu as abandonava.

Restava saber quanto duraria essa minha relação com Alex. Até agora, era o rapaz que mais tinha me enrolado até então. Normalmente, depois do primeiro match, era uma questão de algumas horas de corpos entrelaçados e saídas rápidas, voltando na madrugada para casa. Com Alex, era um verdadeiro recorde.

— Uma pena que vai acabar… — murmurei baixinho, enquanto Alex se levantava. Meu olhar o seguiu, e eu vi Dave entrar de novo na cafeteria.

As coisas boas duravam pouco.

— O que disse, Jesse? — Alex se virou para mim, brevemente.

— Nada, nada… — disfarcei. Como disse, era bom naquilo. E Alex nem percebeu, estava muito concentrado em Dave.

O rapaz nos alcançou, o fôlego entrecortado por passar por tantas pessoas.

— Foi tudo bem? — Alex, de imediato, segurou sua mão.

Uma pontada de ciúmes me atingiu, mas tive que me recordar de que eles eram apenas amigos. Apenas amigos. Era isso.

Ó céus, era Mitchell tudo de novo, não era?

— Sim! Foi ótimo. Ela é ótima — ele começou a falar, olhando para mim. — Falei de você.

— Só coisas péssimas, como sempre.

Como o sorriso dele era bonito. Droga, eu deveria parar; mesmo assim, não conseguia deixar de reparar em como o rosto dele se iluminava ao ver que Dave estava bem, como os ombros dele se relaxavam, como se todo o ser dele estava leve ante àquela notícia. Dava para notar que ele realmente se importava com o bem-estar do amigo.

Por isso a inveja me inundou. Não havia ninguém no mundo que me olhasse dessa maneira…Não conseguia nem imaginar um mundo em ter tal atenção. Era quase impossível, um desejo jogado aos céus.

— Ela falou que eu deveria ter mais coragem para fazer coisas. E não forçar você a viver as coisas que eu deveria viver. — Ele deu de ombros.

— Ah, como me forçar a encontrar pessoas pelo Tinder, e não você mesmo sair para ir atrás do seu crush?

As orelhas de Dave se esquentaram, e ele olhou diretamente para o rapaz no balcão. Fiz o mesmo, e tentei avaliar o estrago.

Era óbvio o motivo da quedinha de Dave. O tal barista era um pouco mais alto do que Dave, com cabelos curtos e arrepiados, as mãos ágeis enquanto trabalhavam nos drinks; e o sorriso eterno estampado no rosto enquanto travava com os clientes. O rapaz obviamente tinha bastante carisma, e era bem-querido pelos que passavam por ali, porque mais de uma pessoa deixou algumas moedas no pequeno pote que arrecadava a gorjeta dos atendentes. Não era muito difícil de se apaixonar. Era o apelo do clichê.

— Já falou com ele então? — intrometi-me na história.

Alex e Dave pareciam ter seu próprio mundinho, mas eu queria intervir. Me meter entre eles.

Eu não ficaria de fora.

— Ah, não, claro que não. — Dave ergueu as mãos para mim, confirmando a negação. Ele parecia mais do que constrangido. — Não quero atrapalhar ele no seu horário de trabalho…

— Mas se você não vai incomodá-lo agora, vai ficar esperando que nem um stalker depois do horário do seu serviço? — Ergui uma sobrancelha.

— Isso também não…

— Então vai deixar a oportunidade escapar?

Alex colocou uma mão no meu ombro; senti o calor de sua palma sobre meu corpo e mordisquei o lábio inferior. Droga, ele causava um efeito devastador apenas com um mero toque. Eu queria mais. Muito mais.

— Jesse, é melhor não forçar nada…

— Não vou forçar — disse, e segurei a mão de Alex contra a minha.

Por breves segundos, a tive em meus dedos, senti seu toque igual a um náufrago que sente o gosto doce da água filtrada depois de dias no mar; mas me foquei. Uma coisa de cada vez.

— Ele precisa de um incentivo.

— Incentivo? — A voz baixa de Dave tinha notas crescentes de pânico, porém, não liguei para isso.

Abandonei meus dois companheiros e fui em direção ao caixa. Para a minha sorte, este estava vazio, então o sorriso que o barista me dirigiu foi genuíno.

Ah, se ele soubesse.

— Olá, seja bem-vindo. Como posso ajudá-lo?

Comecei a analisá-lo rapidamente. Ascendência asiática, provavelmente chinesa. Ele não tinha sotaque e, na plaquinha, apenas seu sobrenome em letras prateadas. Pelas olheiras, deveria estar no final do turno. Os cabelos arrepiados eram um charme a mais. Seu cansaço era visível de longe.

Um detalhe importante eram algumas medalhas que ele carregava no cordão de seu crachá. Um bottom com a bandeira gay (o que era importante, afinal das contas), e outros dois com café e gatos, o quarto de um caderno com algo escrito.

Era a minha chance.

— Oi, boa tarde… eu queria pedir, mas, primeiro… esse pin tem a ver com você ser escritor?

Ele ergueu uma sobrancelha, parecia um pouco intrigado. Ótimo, tinha conseguido fisgar o peixe. Agora era conseguir pegá-lo.

— Sim. Eu participo de um grupo de escrita, e todos os anos em novembro nos reunimos pra esse desafio mensal. Sou um dos organizadores, por isso, se tiver dúvidas…

— Nossa, que coincidência! Meu amigo ali — e fiz total questão de apontar para Dave, que entrou em pânico — também escreve. Será que você conseguiria falar com ele um pouco, explicar como essas coisas funcionam?

Ele pareceu surpreso, e suas bochechas coraram ao ouvir o comentário da sua colega:

— Finalmente algum dos dois deu o primeiro passo. Não aguentava mais ouvir dessa paixãozinha de cliente, Samuel. — Este soltou uma risada nervosa. — Vai lá falar com ele, eu aguento as pontas.

— Uh…

— Bem, você podia convidá-lo para o seu grupo de escrita, né? — Dei a sugestão. — Trocar telefones é de praxe nesses casos, não?

Parecendo encurralado, ele simplesmente desistiu.

— Você não quer pedir nada no fim?

Dei de ombros, e a sua companheira apenas continuou:

— Dez minutos, e nenhum segundo a mais. — Ela revirou os olhos.

— Certo.

E ele saiu de trás do balcão me acompanhando. Ponto para mim, e pontos extras pela expressão de pânico que Dave tinha, escondia-se como possível atrás de Alex. Este tinha uma expressão divertida no rosto, esperava os próximos acontecimentos.

— Dave, este é…

— Samuel — ele intercedeu.

Eu ergui uma sobrancelha, e o vi ir em direção à Dave, dirigindo-lhe a palavra, e ofereceu-lhe uma mão para cumprimentá-lo.

— Soube que é um companheiro de armas meu?

— Companheiro de armas? — Dave estava embasbacado.

— Não está nesta jornada de escrita comigo?

— Ah! — A postura toda de Dave mudou; agarrou o caderno com mais força. — Estou sim. É bem difícil, não é?

 

— É sim. Este é meu quarto ano tentando, mas já consegui vencer os três anteriores. Estou escrevendo um romance com vampiros trisal. Sobre o que é o seu livro?

Dave corou muito. Muito mesmo.

Ah, virgens, pensei.

— Eu… estou escrevendo sobre uma criança que é uma princesa que nasceu sem coração… e um viajante que vem de longe tentar resgatar ela…

Samuel abriu um sorriso. Eu achei que Dave morreria ali mesmo se não estivesse escondido atrás de Alex.

— Olhe, eu não tenho muito tempo — e ele olhou para sua companheira de balcão, cuja fila já ameaçava se aglomerar de novo —, mas eu posso lhe dar meu telefone pra trocarmos informações? Eu gostaria muito de saber mais sobre essa tal princesinha e sobre esse tal viajante. Posso lhe dar umas dicas. Sem falar que haverá um encontro de escritores aqui neste café, eu acho que você deveria participar.

— Cla… claro!

E eles se perderam em alguns segundos anotando os números um do outro.

— Muito… muito obrigada, Samuel!

— Eu que agradeço, Dave. — E ele piscou um olho. — Preciso voltar para o trabalho. Nos falamos em breve!

E ele voltou para trás do balcão.

— Vamos indo? — Alex disse, e amassou os cabelos lavanda de Dave.

O sorriso dele ia de orelha a orelha, e eu senti uma inveja subir pela garganta. Eu não lembrava a última vez que me senti assim, tão inocente ao receber o telefone do cara que eu gostava. Aliás, eu achava que nunca tinha me sentido assim. Essa emoção, essa comoção… o palpitar nervoso do coração ou as palmas suadas. Para mim, sempre foi algo mecânico, um trocar de mensagens e de fluídos corporais.

Às vezes, as coisas poderiam ser mais inocentes.

— Vocês já vão?

— Eu tenho que levar ele pra casa — Alex explicou. Eu me senti um pouco desapontado, e isso me surpreendeu. Eu não queria que ele fosse embora, que terminasse aquele encontro daquela maneira. Foi muito pouco tempo… — Mas eu gostaria que você me acompanhasse até a minha casa se não se importar.

Um sorriso sacana surgiu no meu rosto. Finalmente o convite certo.

— Eu adoraria.


— Você se importa se eu fumar aqui?

Eu ergui os olhos enquanto me aconchegava mais na cama de Alex. A verdade era que já me sentia em casa naquele lugar. Não havia muitos lugares para ficar — e eu já havia dormido ali mesmo —, então foi natural me jogar nos lençóis de Alex e me espreguiçar; enquanto o dono do apartamento se mexia e organizava o pequeno caos que ele criara na minha ausência.

Aproveitei o momento para admirar o corpo dele, e com olhos preguiçosos, o encarei ante ao seu pedido. Lógico que ele era um fumante. Tinha que ter algum defeito naquela perfeição que era Alex; e seus cabelos ruivos e seus olhos verdes floresta e sua tatuagem no rosto em forma do símbolo do ás de espadas…

— Não. — Porque era a verdade.

Fumar ou não fumar, não me incomodava nem um pouco. Estando no meio artístico, você acabava perdendo um pulmão ou outro. Então não liguei quando Alex foi até um canto da cômoda blocada, tirou uma carteira de cigarros mais velha do que ele próprio, pegou um cigarro e o acendeu com um isqueiro prateado.

Droga, eu estava hipnotizado por seus movimentos

Queria provocá-lo à ação. Eu o teria.

— Então você esteve indo atrás de rapazes no Tinder?

Alex parou e inalou mais da fumaça do cigarro. Ele tinha dedos esguios, com unhas delicadas. Ainda tinha algumas manchas de tinta, algumas pequenas cicatrizes… eram mãos com histórias. Eu queria desvendá-las. Queria que aquelas mãos enormes me tocassem, que explorassem o meu corpo…

Que ele jogasse aquela fumaça sobre meu corpo nu, que me envolvesse por completo naquele mistério.

— Pode-se dizer que sim.

— E deu algum fruto nisso?

Alex sorriu de novo, enigmático.

— Se tivesse, estaria eu aqui falando com você?


Você estava ali, de volta ao meu apartamento.

Como um gato, se mexia e se espreguiçava na minha cama. Agia com tamanha naturalidade que parecia que nos conhecíamos há anos, e não uma semana.

Sentei-me perto do duto de ar, para que a fumaça do cigarro não ativasse o alarme de incêndio. O banquinho era velho, e eu o havia recolhido do lixo de outra pessoa, mas, como diziam, era necessário reciclar, reusar e reutilizar. Me servia muito bem quando eu usava minha mesa de desenho, e para momentos em que eu precisava fumar dentro de casa no inverno.

No entanto, uma vontade agitava as minhas mãos e as deixavam inquietas. Achei que o cigarro aplacaria a necessidade, que diminuiria a urgência do vício, mas não era isso que meu corpo clamava. Não. Meus olhos iam para um lado do meu apartamento, e sempre paravam na cama, em especial, nas áreas em que as roupas de Jesse não cobriam.

Por que ele tinha usado um cropped logo no inverno?

Eu queria…

Assoprei um pouco da fumaça, e senti minhas orelhas esquentarem.

— Se minhas empreitadas no Tinder tivessem dado algum fruto, tenha certeza de que você não estaria na minha cama — continuei.

Você riu. Droga, ficava cada mais difícil resistir à urgência quando eu via o modo como sua camisa subia em direção ao seu torso, expondo a pele de seu abdômen definido, como os músculos de seu pescoço se tensionavam por sua risada; e seu pomo de adão subia e descia em sua garganta…

Tudo era muito belo.

Eu queria eternizar aquele momento de alguma forma.

Da única maneira que eu sabia bem como eternizar momentos, na realidade.

— Você se dá muito pouco valor, Alex. Tenho certeza de que os homens do Tinder caíram aos seus pés.

— Duvido. Aposto que você tem mais sorte do que eu.

Seu sorriso era enigmático. Eu sabia que você não devia ser virgem, mas aquele sorriso indicava que você não era estranho a ir para casa de, bem, estranhos. De outro modo, como não ficaria confortável em ficar nu no meio de uma sala cheio de jovens adultos cheios de tesão e cansaço? Era óbvio que aquela profissão era perfeita para você, Jesse.

Eu só não sabia o quanto.

Suas mãos passearam por seu estômago, e eu engoli em seco. Seus dedos alvos deslizavam por seu músculo oblíquo externo enquanto dedilhavam por sua pele, arranhando-a no processo; chegou à curva da linha alba, o contorno perfeito de um traço.

— Você quer ter sorte, Alex?

— Eu quero…

Eu comecei a frase, quando era óbvio que você sabia que meu olhar estava completamente hipnotizado por seus dedos. Fazia de propósito, para me provocar, e passou do apex de sua pélvis para o alto de suas costelas.

Droga.

Suas mãos começavam a se movimentar na cama quando eu disse:

— Eu quero desenhar você.

Seu rosto transmitiu algum choque e, por alguns segundos, você ficou parado no lugar. Mas logo se recompôs, engatinhou em minha direção, saltou da cama e foi até o banco onde eu estava sentado. Eu fiquei parado esperando suas ações. Meu cigarro continuava em minha boca, porém, eu não o tragava. O ar entre nós parecia suspenso.

Seus olhos estavam enevoados.

— Eu modelarei para você, Alex Morris — você disse, e arrancou o cigarro com seus dedos esguios —, se parar de fumar e me comer agora.

Minha boca aberta parecia estúpida agora sem o cigarro.

Claro que você propôs algo do tipo. Eu apenas hesitei — não porque não quisesse, mas… como reagir propriamente? Eu estava atraído por você, lógico, mas o que fazer nessas horas? Iza sempre reclamou que eu não tinha atitudes, que sempre seguia o fluxo, e era extremamente lerdo, além de devagar. Eu não sabia fazer as coisas como um furacão como você. Você veio e derrubou todas as portas, derrubou prédios e pontes.

Ir para a cama logo no primeiro encontro? Eu nunca tinha feito isso. Não era do meu feitio, mas…

Jesse, você não era qualquer um.

— Jesse… — Meu ar faltou.

A decepção no seu olhar foi visível quando eu não o correspondi. Suas intenções eram claras: você queria algo a mais. Quanto a mim…

Eu não sabia o que queria.

— Preciso ir — você anunciou, e começou a reunir os seus pertences.

Aquilo machucou o meu coração de uma forma que eu não soube o que fazer. Eu precisava impedir. Precisava ter você comigo, ao menos por mais algum tempo. Eu sabia que, se você saísse por aquela porta, nunca mais nos encontraríamos.

E uma coisa que o Destino unira, não poderia ser desfeito daquela maneira.

Agarrei seu braço e o impedi de continuar.

— Jesse, por favor.

Você parou, mas não disse nada, apenas encarava-me com uma expressão neutra. Eu tinha feito merda, não era?

— Eu preciso de mais algum tempo. É tudo um pouco novo demais para mim. Eu ainda… não estou acostumado com isso.

— E precisa? Talvez eu não queira um cara que demore a se acostumar.

— Talvez não. Mas eu quero você.

Você se virou para mim, o olhar azul completamente surpreso. Eu sei. Eu também estava surpreso com a minha própria admissão, com a vontade que nascia dentro de mim.

— Eu quero te tocar. Mas não sei se isso significa o que você quer que signifique.

Eu vi seus olhos correrem da porta para a cama, e a distância entre elas. Pois bem. Suas mãos tocaram as minhas, colocando-as em seu estômago e você pediu baixinho:

— Me toque.


Nunca me senti tanto um adolescente virgem e desengonçado. Estava apenas de meias, calça e camisa, mas meu coração batia no peito, acelerado, como se fosse a primeira vez que iria tocar em alguém. E, supostamente, iria ser apenas aquilo. Deitamos lado a lado na cama. Sua camisa foi a primeira peça de roupa a ir embora. A visão era estonteante demais, seu peito levemente corado pelo frio e pela excitação, os mamilos roseados intumescidos pelo frio; sua pele se arrepiava ao toque de meus dedos.

Eu pedi perdão a você e, no entanto, resolvi me aproveitar da situação.

— Vire de costas para mim — pedi.

Você me deu um olhar estranho, mas acatou o meu pedido.

Eu tinha o seu dorso nu, Jesse, ao meu contato, e podia explorar sua pele ao meu bel prazer. Ficar em silêncio foi um contrato mútuo e não escrito, que foi preenchido por nós dois, porque dizer uma palavra seria quebrar o momento, quebrar o tom do que se passava ali. Sua respiração estava acelerada, como a minha, então apenas podia sentir o que se passava com você.

Toquei, com apenas as pontas dos dedos, seu trapézio e senti as formas, e logo estava, ali, a tatuagem. Dois buquês de hortênsias, com algumas pétalas flutuando, formavam uma constelação de tirar o fôlego. Um azul e o outro rosa. Eu havia visto aquela tatuagem antes, por foto, mas presencialmente, ela era ainda mais estonteante.

Tracei a tinta encravada na pele com o indicador e o dedo médio, sentia a leveza de sua tez. Mesmo com as cicatrizes deixadas pelo desenho, a textura dela era quase uma seda. Eu não queria me conter, queria tocá-lo cada vez mais, mas fui calmo. Paciente. Eu tinha todo o tempo do mundo.

Desenhei cada traço, aprendi seus contornos, e quando me cansei do desenho ilustrado, passei por sua omoplata afiada, e eu senti quando se abalou. Como se pequenos choques percorressem a sua pele, todo o seu corpo tremia.

Eu me aconcheguei mais a você, nossos calores se uniram.

— Ah… — Você arfou.

Movi minhas mãos e espalmei sua pélvis, senti seu músculo oblíquo externo se contrair. O cós de suas calças ficava próximo a ponta de meus dedos; e, com uma calma, que não condizia com a velocidade com a qual o sangue era bombeado para as minhas partes baixas, eu agarrei sua ereção.

As coisas se moveram bem mais rápidas daí por diante.

Mãos afoitas desfizeram o enlace de suas calças, e você se viu livre, pulsante e sedoso em minhas mãos. Ainda assim, eu ainda queria te provocar. Fui lento, massageei a cabeça de seu pênis, sentia como suas veias pulsavam sob meu comando, apenas para que você arfasse sob mim, que ficasse sob minha total mercê.

Você não estava disposto a ir sem lutar, no entanto.

Suas mãos começaram a explorar o meu corpo, tocavam, exigiam, clamavam território; e agarraram com vontade a minha bunda. Seu torso se encaixou ao meu, e com vontade, você começou a rebolar contra a minha própria ereção, sabia exatamente o efeito que causaria em mim.

Droga, Jesse.

Eu mordi o seu ombro, e você gemeu.

— Acalme-se — alertei.

— Mais… — você implorou.

— Darei tudo o que você quiser.

E era uma promessa que eu estava disposto a cumprir.

Bombeei sua ereção enquanto meu polegar massageava sua glande, e ouvi seu arfar se transformar em suspiros conforme eu aumentava a velocidade. Continuei a mordiscar seu pescoço, porque isso me pareceu uma atividade deveras agradável para a minha boca sedenta; e conforme você se agarrava mais a mim, parecia que eu acertara exatamente onde você mais queria.

— Ah… Alex! — Você arfou, e uma chave girou em mim, abrindo a caixa de litígio ao ouvir me chamar pelo nome.

Droga, eu queria muito fazê-lo gozar em minhas mãos.

— Jesse — eu mesmo arfei, e mordi seu pescoço; eu sabia que a marca ficaria ali por alguns dias, porém, não me arrependi.

Aquilo foi o necessário para que o gozo viesse, manchando a minha mão e seu estômago, seus olhos se fecharam, e as mãos liberaram a posse.

Uma sensação de satisfação me preencheu, mesmo que eu mesmo não tivesse atingido o clímax. Mas vê-lo ali, tão entregue, Jesse… pareceu certo. Me deu vontade de fazer aquilo mais vezes.

Você, como sempre, foi mais prático.

— Preciso me limpar.

Eu me virei na cama e peguei alguns lencinhos que mantinha na cômoda. Você pegou alguns e limpou a sujeira, eu segui sua liderança. Depois, ficamos ali, com sua cabeça ainda apoiada em meu braço, nossos corpos ainda unidos.

— Você quer que eu faça o mesmo? — E tocou em minha ereção, que doía, apertada em minhas calças.

Neguei.

— Acho que podemos ir devagar — eu disse apressado. — Não que eu não tenha gostado. Eu gostei. E muito. Mas acho que podemos…

— Ir devagar, quase parando. — Jesse sorriu. — Se for sempre assim, não me importo.

Eu apertei o nariz dele.

— Ei!

Aproximei meu rosto do seu, com a intenção de beijá-lo, mas parou minha investida e segurou, com as mãos, minha boca.

— Não, obrigado. Isso não.

Não entendi e ergui as sobrancelhas.

— Eu acabei de te dar um orgasmo.

— É que, pra mim, de alguma forma, beijar é mais íntimo do que o que acabamos de fazer. — Eu não queria estragar o que estava acontecendo, mas, ao mesmo tempo, eu não queria perder uma oportunidade por ir rápido demais, então deixei para lá; embora minha expressão devesse ser de decepção, porque seu semblante mudou. — Alex Morris… — Você revirou os olhos. — Você é impossível.

E mordeu o lábio inferior.

— Você vai ficar? — arrisquei, a esperança dançava em meus lábios, e dela, saltou para os seus; fazendo os se curvar lentamente, apesar da sua resposta demorar segundos a mais no ar.

— Sim. Eu fico.
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