fogáreu
brasas – 4
— Jovem príncipe, devo insistir para não ficar tempo demais nas águas. É capaz de passar mal.
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O calor era convidativo, mas Faryeh tinha de admitir que seu interior parecia ainda mais vazio do que de costume. A fome o consumia, e Faryeh se ergueu, aceitando a toalha felpuda que Kalila tinha em mãos, e elas se aproximaram para secá-lo.
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— Não precisa…
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— Por favor, jovem príncipe, eu insisto. É meu trabalho, afinal de contas.
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Apesar de achar estranho tantos toques, especialmente de pessoas que mal acabara de conhecer, Faryeh ficou quieto enquanto elas o secavam com um sentimento de inquietação que começava da boca do estômago para sua garganta, a embolando. Foi colocado em vestes simples, como um xale sedoso e macio, e levado por uma das entradas para um corredor escondido. O desconforto aumentava, especialmente por estar usando poucas peças de roupa, mas Kalila olhou para ele, o tranquilizando:
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— Aqui é a passagem apenas para a família Real, jovem príncipe. Não encontrará com outras pessoas se a utilizar.
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Faryeh permaneceu em silêncio, e apesar do conforto, ainda tinha a estranha sensação de que estava sendo observado. Kalila fez um gesto e abriu uma porta no meio do corredor, permitindo a sua entrada. Era um quarto, mas muito mais suntuoso que Faryeh já vira na vida. Só o tamanho deveria ser a ferraria inteira. No fundo, tinha uma cama com lençóis acetinados e brancos, travesseiros mil de cores alaranjadas, amarelas e vermelhas. Um pequeno pufe junto a uma varanda, para qual Faryeh correu e os telhados de Fogaréu se ergueram para ele, o mar de pessoas andando pela cidade, os muros de jade e esmeralda ao longe. Se ele pudesse espichar a vista, ainda conseguiria ver as montanhas de Aura, que apenas ouvira falar. Era uma nova perspectiva, muito além do que jamais pensaria em ter.
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— Isso é incrível… — Faryeh disse, maravilhado.
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— Por favor, jovem príncipe, não se aproxime tanto da borda…!
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Faryeh olhou para trás, e Kalila estava completamente em pânico.
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— O que houve?
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— Ah, não…
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Heika revirou os olhos.
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— Kalila tem medo de altura, especialmente da vista das varandas. Não sei como sobrevive, nosso alojamento é em uma das torres leste.
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— Eu tento ignorar a altura!
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— Subindo 3092 degraus?
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— Não é tudo isso!!
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Aquele pequeno diálogo era tão surpreendente que Faryeh ficou chocado. As pessoas tinham realmente outra vida, enquanto ele estava preso nas suas percepções de mundo pequeno. Ele se virou mais uma vez para a bancada, observando o céu azul, com as nuvens passando aos poucos e soltou uma singela risada.
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Ele… realmente podia relaxar?
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Não precisaria ficar mais procurando por comida em latas de lixo? Em restos de comida, em favores humilhantes? Faryeh fechou os olhos e sentiu a brisa.
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— Jovem príncipe… vista-se ao menos…
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Faryeh voltou para o interior do quarto, que era um pouco mais aquecido, e perguntou-se se era efeito das águas que ficavam por debaixo dele. Era fascinante, e tudo muito novo. Notou alguns móveis dos quais Heika tirava alguns tecidos e os colocava na cama, e Kalila o levou para detrás de um biombo, pronto para vesti-lo. A vestimenta tão delicada e complicada que era necessário dois pares de mãos a mais para assegurá-la ao corpo. Uma vez pronto, Kalila sorriu.
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— Bem melhor, não é?
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A resposta fugiu a Faryeh. Havia algo em sua garganta travando-a, especialmente pela fome que o acometia por completo, agora que estava banhado e relaxado. A roupa ficava um pouco larga em si, por seu físico franzino, mas cabia a sua altura perfeitamente. Heika bateu os dedos contra algo, fazendo um barulho com as unhas, e Faryeh se virou ao ver que ela puxara o espelho em sua direção.
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Era a primeira vez que Faryeh via seu reflexo em muitos anos.
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Não que era ignorante à própria aparência, mas era a primeira vez que se via arrumado. Tinha ciência dos cabelos compridos que batiam às costas, mas Kalila usava suas mãos gentis para trançar sua franja e prendê-la na parte de trás de sua cabeça, com alguns pingentes de ouro que caíam contra seus olhos. Ela também aplicou rouge em suas bochechas, que pareciam mais coradas, mas ele não saberia dizer se fora da maquilagem ou do calor das termas. Nunca soube a cor de seus olhos, mas agora os via delineados com uma tinta marrom que destacava o vermelho de seus orbes castanhos. A vestimenta era uma bata simples de cores quentes, que usava por cima de uma camisa de linho branca, o mesmo tecido das calças. A complicação vinha da série de fitas que compunham o visual, e que habilmente foram amarradas por Heika.
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Faryeh ficou sem ar. Apenas admirou seu reflexo, até que Kalila se manifestou novamente.
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— Se precisar de nós, jovem príncipe, pode nos chamar a qualquer momento.
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Faryeh apenas assentiu, e assim, as duas foram dispensadas. Faryeh ainda não conseguia quebrar o feitiço do espelho: era assim que outras pessoas o viam? Ou que o veriam a partir de agora? Ainda não aceitara aquele destino tão facilmente, por ser tão frágil a facilidade da qual provinha. Seria a chamada sorte? Deveria ele reclamar, ou apenas aproveitar o fluxo? A incerteza pairava sobre si, e ele cerrou os punhos.
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Pôs-se a descobrir o resto do quarto — ele tinha um banheiro próprio, com uma banheira cravada em pedra e pelo toque, também aquecida, além de milhares de pequenos frascos e barras do que achou que era sabão e dos mais diversos perfumes; a cama de fato era tão macia quanto ele próprio imaginara e os travesseiros fofos e cheirando a laranjas, ele se deitou e sentiu o corpo inteiro se envolver. Havia um tapete felpudo aos pés da cama, e o divã era tão confortável quanto ele achou que seria.
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Se fosse mesmo um sonho, ele não gostaria de acordar.
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Apesar da curiosidade, a fome ameaçou mais uma vez rugir em seu estômago, dessa vez mais alto. Ele se levantou de sua exploração no sofá (tinha uma prateleira com livros! Livros! Ele nem sabia ler direito!) e talvez fosse sua chance de levar aquela expedição para a cozinha. Ele viu pães sendo preparados, com certeza deveria ter algo pronto àquela hora. Ele aceitaria até uma pedra se isso matasse sua fome.
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Abrindo a porta e saindo do seu quarto, encontrou o corredor vazio. Não se lembrava do caminho, então saiu a esmo, sentindo os raios de Sol baterem nas vidrarias coloridas das janelas com um carinho sem fim. Era muito aquecido o interior do castelo, como se a outra vida gélida, aquela das ruas, fosse uma mera lembrança que ficaria no passado. Faryeh ouviu um som de uma das portas, e curioso, a abriu.
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Era um quarto menor, e não havia camas, mas era decididamente tão decorado quanto. Tinha uma mesa com alguns papéis — documentos importantes, deveria ser —, mas além disso, sentado na cadeira de madeira escura, estava Ehre.
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— Faryeh. — Seu irmão sorriu de orelha a orelha ao vê-lo. O rapaz sentiu o coração aquecer e correu em direção a Ehre, que se levantou para acolhê-lo em seus braços. — Pronto, pronto. Está com um cheiro bem melhor, irmão. As servas o perfumaram?
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— Ehre… — Faryeh suspirou contra o irmão, o rosto preso contra seu peito. — Parece um sonho. Passei anos acreditando que o havia perdido.
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— Não mais, irmão, não mais. Estou aqui.
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Os dois permaneceram no abraço, o calor dos dois se fundindo. Ehre acariciava os cabelos de Faryeh, e embora os dele não fossem mais tão compridos quanto um dia o menor se lembrava, seu irmão mantinha a mecha ao lado esquerdo do rosto maior, mas dessa vez decorada com joias douradas de gemas vermelhas. As roupas de Ehre pareciam ainda mais macias e delicadas que as de Faryeh, usando o mesmo tom que as dele.
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— Venha, Faryeh, sente-se aqui.
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Ehre indicou para que os dois se sentassem em uma bancada que dava para uma janela, também decorada com travesseiros macios. Os dois se sentaram, e Faryeh encarou o irmão, esperançoso, mas ainda sem saber o que dizer. Uma pergunta veio à mente, no entanto.
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— Como… como isso tudo aconteceu? Como sobreviveu à Guerra, e agora, vai se tornar Rei? Você nasceu em uma ferraria, Ehre.
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Seu irmão soltou uma risada, e Faryeh se deliciou com o som. Era igual a que se lembrava, e de certa forma, ainda melhor.
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— Não irei fazer rodeios, Faryeh. A Guerra… não foi fácil. Era o capitão de um batalhão, enfrentando os não-humanos no deserto. Eles tinham a vantagem, e fui capturado. Levado para o lar deles em meio à floresta. Eu… conheci seu líder. E consegui vantagem sobre ele, e assim o derrotei. Encerrei a guerra, mas o custo é tremendo. Temos muito o que consertar, eu e você.
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— Eu também?
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— Você é agora meu herdeiro, Faryeh, por sermos irmãos.
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— Mas você não terá filhos uma vez casado com a princesa? Leise, não é?
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— Faryeh… — Sua voz se tornou sombria. — Fui ferido na Guerra. — Aquilo alarmou o outro, que tocou no pulso do irmão, como se procurasse tal ferida. — Não se preocupe, já estou sarado. Mas me deixou o fardo de que não posso mais ter filhos.
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— Ah, Ehre… eu sinto muito. Foi sempre seu sonho ter uma família grande…
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O olhar do mais velho foi para a parede, enquanto o de Faryeh retornou ao passado, com os sons do crepitar da fornalha, do guisado de sua mãe, e abraços gentis. Mas a nostalgia do passado deu lugar a um abraço no presente, em que Ehre colocou o irmão no colo, assim como fazia quando eram menores, e Faryeh se agarrou à única verdade que conhecia. Escondeu o rosto contra o peito do irmão, e despejou toda a dor que carregava no peito. Aos poucos, suas lágrimas se misturavam às do seu irmão, o silêncio do escritório sendo preenchido aos poucos com os soluços decrescentes de Faryeh. Não soube dizer quanto tempo ficaram assim, mas Faryeh, uma vez acalmado, voltou a encarar o irmão, que limpou o rastro das lágrimas de seu rosto.
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— Não pode chorar, Fay. — Era doído como seu apelido de infância parecia tão estranho aos seus ouvidos, tão distante e familiar. — Agora você é um príncipe. Não podemos demonstrar fraqueza.
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— E você será Rei. — Ehre assentiu. — A vida tem suas reviravoltas. Finalmente, minhas preces aos Deuses foram atendidas.
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— Fico feliz, Faryeh. Quando soube da morte de nossos pais, temi tê-lo perdido também. Apesar de tudo, estou feliz por ter te reencontrado. — Mas tinha um pesar em sua fala que Faryeh reconheceu. — Apesar de nós termos recebido uma benção dos Deuses, temos que nos lembrar de que é um fardo muito, muito pesado, o da coroa. Espero que você consiga entender algum dia o que eu falo.
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— Acho difícil. — Faryeh encarou o irmão. — Eu não fui criado para isso, irmão. Sou filho de um ferreiro.
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Ehre, no entanto, sorriu.
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— Não se preocupe, você terá aulas. Assim como eu tive.
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— Aulas?
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— Agora você é um nobre, irmão. Precisa aprender como se portar como tal.
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— Hm… Isso parece difícil, eu não posso só voltar para a ferraria?
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Apesar das reclamações saindo de sua boca, a maior delas foi um protesto de seu estômago que reclamava por ser esquecido. Ehre soltou uma risada alta e profunda, e Faryeh sorriu ao ver o irmão tão leve, apesar da vergonha.
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— E viver de comer metal? Não, você tem um destino muito maior agora.
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— E qual é?
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Ehre acariciou sua cabeça, ternamente. Com certeza conseguiria se acostumar com todo o carinho que agora receberia. Isso, ao menos, era o primeiro passo.
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— Você descobrirá. Agora, a primeira lição será… descobrir o caminho até a cozinha. Que acha de irmos juntos?
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— Você também não sabe, irmão?
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— Shh… é segredo isso. — Seu irmão levou o dedo aos lábios. — Este castelo é enorme, eu frequentemente me perco e algum dos servos quem acaba me encontrando e me guiando. Mas podemos ter essa pequena aventura, eu e você. O que acha?
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Faryeh sorriu, saindo do colo do irmão e se levantando.
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— Vamos sim, Ehre.
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Uma vez saindo do escritório e o trancando com uma chave longa que pendia de um molho de chaves ao redor da cintura de Ehre, os dois caminharam, conversando sobre várias coisas, Faryeh questionando sobre a guerra, e Ehre o explicava, pacientemente. Chegaram na cozinha quando a fábula de Ehre sobre um demônio gigante que comia carne humana impressionava Faryeh, e encontraram o ambiente vazio.
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— Hmm… estranho, mas… O que quer comer, Faryeh? Preparei-o para você.
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Ao menor sinal da voz de Ehre, uma moça apareceu, vestida com o uniforme de cozinheira de uma das portas abertas. Faryeh espiou e viu um depósito, e uma cadeira em que parecia ter sido recentemente ocupada por ela.
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— Deuses, Príncipe Ehre!
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— Ainda não sou príncipe, meu casamento é somente no final dessa semana. — Ele sorriu. — Sou um cidadão como você, senhorita…
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— Por favor, não fale desse modo, Vossa Alteza. Não posso tratá-lo como igual. Desculpe-me perguntar, mas… Por que está na cozinha?
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— Bem, eu estava apenas a preparar uma pequena refeição para meu irmão, que não comeu nada desde que chegou.
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Faryeh escondeu-se atrás das vestes de Ehre, curioso e um tanto envergonhado. Pela primeira vez em sua mente, percebeu que as pessoas agora sabiam quem ele era. Não era mais um pedinte anônimo na rua. Era um príncipe. Isso o encheu de orgulho e um medo ancestral. Esperava apenas não desapontar seu irmão…
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— O jovem mestre! Oh Céus. Poderia ter pedido algo para seu servo que logo o trariam! Eu estava a descansar, poderia ter feito o pedido de imediato.
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— Não deixe que nós atrapalhemos seu descanso, senhorita. Por favor, Faryeh, sente-se aqui à mesa…
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— Oh Céus… O príncipe não pode se sentar na mesma dos comuns!
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— Ele também não é príncipe ainda — Ehre sorriu. — Por favor, deixe-me continuar. Prometo recompensá-la.
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— Eu não poderia pedir por nada, Vossa Alteza…
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— Acalme-se, por favor. Quero apenas fazer um sanduíche para nós. Ainda iremos jantar, afinal das contas. — Ele se virou. — Hmm… talvez você possa me ajudar, eu não faço a menor ideia de onde ficam as coisas.
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E, colocando um avental, Ehre pôs-se a trabalhar, enquanto Faryeh se sentou de fato na cadeira, achando-a muito confortável comparado com o que conhecia. Tinha acolchoamento! Apenas observou o irmão, enquanto a serva ia de um lado para o outro, apontando e trazendo materiais para ele, e quando o prato apareceu na sua frente, Faryeh já estava atordoado com o cheiro por ele ser bom demais.
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— Coma, Faryeh.
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Sem demora, Faryeh pegou o pão com as mãos, e deu uma mordida ávida em sua extensão, arrancando um pedaço. Sentiu o pão macio, tão diferente dos embolorados que conseguia comer, e quentinho, além de queijo, que era praticamente uma mordomia, quando sentiu a carne desfiada se desfazendo em sua boca. O sabor levemente doce preencheu seus sentidos, e ele engoliu um pouco rápido demais.
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— Ehre, o que é isso?
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— Carne de cordeiro. Nossa mãe nunca teve dinheiro para comprar, e sempre fez o guisado com frango. Bem, agora podemos ter um pouco mais de privilégios.
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— Comer carne todos os dias?
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— Sim, se assim desejar.
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Faryeh ficou tão perplexo, e pôs-se a devorar o lanche, afinal, não eram todas os dias em que poderia comer com fervor. Mas… Agora ele podia, não podia? A realização caiu dentro de si com um pedaço quente de carne. Não estava mais nas ruas. Tinha uma casa. Seu irmão voltara.
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Quando suas lágrimas molharam seu rosto de novo, Ehre o abraçou novamente. Os dois ficaram quietos, com Ehre preparando um sanduíche para si e os dois comeram em silêncio, Faryeh se servindo de um segundo pedaço, tentando saciar o vazio que sentia. Ehre comia com vagar e seu prato ainda estava pela metade quando o irmão mais novo terminou o dele.
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— Preciso que seja forte a partir de agora, Faryeh — Ehre disse em uma voz baixa. — Preciso que entenda que por mais privilégios que tenha, eu e você somos estranhos neste paraíso. Farei o meu melhor para protegê-lo, mas nem mesmo eu tenho olhos em todos os lugares.
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— O que quer dizer com isso?
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— Que você mesmo precisa se proteger, e aprender em quem confiar. Todos irão querer seu favor, agora que é o herdeiro. As servas que lhe designei são dignas de confiança, mas qualquer um pode tentar algo contra você, irmão.
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— Algo contra mim? Você fala… tentar me matar? — Sua memória voltou para a pequena menina não-humana na ferraria, mas ela não havia tentado lhe matar… Era estranho sua posição agora.
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— Não se preocupe. Designei-te uma guarda da minha confiança. Você a conhecerá, o nome dela é Sarvarth. Ela e Kalila tem a minha total confiança.
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— Mas quem atentará contra a minha vida?
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Ehre apenas sorriu.
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— Eu sinto muito, Faryeh. Tente não se preocupar com isso por enquanto. Enquanto eu viver, tenha certeza de que você estará seguro. Não deixarei ninguém tocar em você sem a minha permissão.
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Ehre ergueu o braço e o passou pelas costas do irmão, trazendo-o para perto. Faryeh tentava se acostumar com a enxurrada de informações: sua nova posição na sociedade, o fato de que poderia comer e se banhar quando quisesse, e que havia pessoas agora que o desejavam morto… Era uma reviravolta e tanta para sua vida. Faryeh fechou os olhos e tentou se concentrar na mais importante: seu irmão estava ali, vivo e bem. Por mais que o futuro parecesse assustador, este pequeno conforto era o suficiente para fazê-lo sorrir ao fechar os olhos, e aceitar este destino.
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— Vá descansar, temos ainda um jantar pela frente. — Ehre sorriu. — E minha noiva é deveras mais exigente do que eu…
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— É estranho que esteja noivo, Ehre. — Ao que Ehre riu, a risada ecoando pela cozinha vazia.
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— Não se preocupe. Irá acontecer a você, também.
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— Casamento?
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— Não, Faryeh. Amor. Tenho certeza de que algum dia irá se apaixonar, e quando o fizer, terá minha benção para se casar como bem entender.
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Faryeh ficou em silêncio, ponderando. Apesar das roupas esconderem grande parte das suas marcas, ele as conhecia intimamente e sabia que a maioria das pessoas era repelida por elas. Então, como afirmar que algum dia alguém olharia por trás de suas queimaduras e o chamaria de amor? Parecia impossível. Quem amaria um monstro como ele?
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— Acredite, Faryeh — seu irmão continuou. — Tenho certeza de que o Destino tem algo muito bom reservado a você.
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E bem, era o que bastava: apenas aquela pequena esperança. De alguma forma, Faryeh queria acreditar que tudo ficaria bem.
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O dever é um manto volumoso, que Faryeh talvez nem tenha ideia ainda do quão pesado seja. Ainda assim, ele ainda tem esperanças… Mas o que será que o destino reserva para ele?
A pergunta de hoje é: qual sua comida mais nostálgica, mais com gosto de cozinha de mãe?
Lembrando que dá pra ler adiantado no meu apoia.se e no meu site!
Nos vemos na quarta!
Lacie