Lacieverso

capítulo 13

o lugar ao qual eu pertenço

5 ANOS DEPOIS

Aquela ponte era um ponto nostálgico já. Era meio mórbido, porque, aparentemente, no último final de semana, mais um ciclista tinha perdido a vida ali; então estavam pensando em fechá-la por um tempo para a passagem de carros, e permitir apenas a passagem de pedestres; talvez ela se tornasse um ponto turístico. De qualquer forma, deixei um pequeno ramo de hortênsias brancas no pequeno memorial, como fazia com todos os outros, em um singelo ritual.

Mas, em minhas mãos, estava o outro componente daquele encontro, e logo encontrei meu “encontro quente” da vez. O certo, para variar.

Ele tinha mudado muito, e nada, naqueles cinco anos. O rosto estava mais fino, os músculos mais inchados, mesma altura baixinha. Cabelos dourados mais curtos, olhar mais afiado. Roupas mais decentes, o mesmo sobretudo cinza. Ele aceitou o picolé, mesmo sendo o meio de novembro; e o inverno começava a chamar nossos nomes nos uivos das montanhas, no entanto, ele apenas sorriu ante a brincadeira.

— É bem a sua cara mesmo, Alex.

— Prometo que atende todas as restrições pós-pandemia.

Jesse ficou em silêncio, um sorriso no rosto. Cinco anos nos separavam. Nós havíamos mudado.

— Mitchell e Chase vão se mudar para um apartamento próprio.

— Dave me contou.

— Odeio gente feliz no amor. Dave está namorando o agente dele, né? Que horror, ser feliz na carreira e ainda conseguir um gato daqueles de namorado.

Eu soltei uma risada.

— Seu pai também está de namorada nova, né?

— Sim, o que torna muito inconveniente morar com ele. Depois de eu terminar a faculdade, eu achei que ele fosse sossegar e me deixar em paz; mas agora ele fica me azucrinando pra eu cuidar da loja, para que ele possa ter tempo livre de sair com a moça por aí.

— Você está bem com isso?

Dei de ombros.

— No fundo, sim. É pacato, e é bom. Não é um mau futuro.

— Entendo… eu terminei agora um curso de gestão de projetos. Estou aplicando para algumas empresas; as entrevistas sempre acabam em um lugar interessante quando eu falo que fui modelo vivo.

— Consigo imaginar bem a cena.

— É bem atarefado, mas é bom.

E era. Porque sua estrela estava radiante como o Sol, e você estava feliz. Era bom aquilo, saber que você decidiu continuar, e que o Destino foi gentil conosco. Não precisaríamos de glorias ou de fanfarrões, apenas de pequenas vitórias do dia a dia; e a cada dia vencido, seria uma noite a mais na Terra. E, no fundo, era o que importava.

— E quanto aos seus dates no Tinder?

Encostei-me no parapeito da ponte, sabia que chegaríamos naquele ponto. Em algum momento do ano passado, Dave tinha achado que era hora de acabar com meu celibato patético, e me inscreveu no Tinder de novo, sem parar de encher meu saco de novo até que eu o usasse. E até que o usei. Mas…

— Sem sucesso até agora.

— Por quê?

— Sinceridade acima de tudo?

Ele assentiu.

— Por mais que eu tenha tentado seguir em frente, eu nunca, de fato, consegui te superar, Jesse.

Nós dois voltamos a ficar em silêncio, e eu encarei o nada. Olhei para o longe, para a luz que ficava do outro lado, e talvez ela tivesse piscado, e talvez fosse a hora de ir. Mas, antes, você começou a falar, e eu decidi esperar meu julgamento.

— Alex… por mais que eu tenha decidido me afastar da sua vida, para que nossas decisões não influenciassem uma do outro, nesses cinco anos, eu me pegava pensando… ponderava se você estava feliz, se nós dois… se nós dois não erramos por não estarmos juntos. Eu senti sua falta esse tempo todo.

E meu coração saltou no tempo espaço e encontrou você.

— Eu ainda não estou bem, e não sei sequer se um dia estarei, mas…

— Eu também não sei estar bem sem você.

Frente a frente, meu Sol encontrou a sua Estrela e formamos uma galáxia — apenas nossa, com muitos anos ainda pela frente. Meu rosto se aproximou do seu, o tempo perdido estampado nele, e decidi que nunca mais deixaria aqueles lábios sem beijá-los.

Toquei nossas testas, e você murmurou:

— Devagar dessa vez.

E o tempo parou quando nos encontramos no universo.

Jesse interrompeu o beijo, e eu achei que tinha feito algo errado, dito algo errado, errado de novo, mas:

— Não, espera! Acho que vi uma estrela cadente!

— É? — Eu me virei para os céus, mas eles continuavam tão limpos quanto antes.

— Bem, não foi nada. Volte aqui. — Me puxou de novo pela lapela e me beijou devidamente.

Ficamos ali um tempo, nos beijando, quando o frio finalmente chegou em nossos ossos.

— Vamos tomar um café em algum lugar? — convidei, e ofereci minha mão a ele.

— Prefiro um sorvete. — Ele riu, tomando-a, e nossos laços eram intransponíveis.

Fomos embora da ponte, deixando toda a mágoa, mas também pequenos fragmentos de felicidade; agora que estávamos juntos, o inverno de novembro não parecia tão frio.

FIM

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