capítulo 9
joia profana
Dezembro veio, e com ele, a primeira neve do inverno. Chegamos na minha casa, e entramos no apartamento meio molhados, como acontece com toda neve. Todas as canções de amor de Natal falavam de como era linda a neve, mas ninguém mencionava a parte inconveniente dela, a parte da vida real.
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Bem, essa parte não era tão glamurosa.
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Tomamos banho, não juntos dessa vez. E uma vez que saí do boxe, cheio de pensamentos conflitantes, foi um ar fresco ver você com apenas meu moletom a cobrir o corpo em cima da minha cama; as pernas esguias expunham a pele alva e tentadora.
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— Venha logo para a cama — você urgiu, e eu fui.
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Coloquei uma calça de moletom e fiquei sem camisa, e aconcheguei meu corpo com o seu, debaixo dos edredons fofos. Dava para ver a neve cair por cima da estufa, e, por um momento, me preocupei com as hortênsias; porém, quando você beijou meu braço, tinha coisas muito mais importantes para se lidar agora do que a primeira neve do ano.
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O ano em si poderia esperar.
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Beijei seu pescoço, e senti toda a sua pele se arrepiar em resposta. Era muito bom o sexo, claro, mas ficar com você daquela forma também era muito delicioso, especialmente depois de termos estabelecidos nossas posições naquele relacionamento. Ainda não sabia se podia te chamar de namorado — mas, convenhamos, se éramos exclusivos, o que mais nós éramos? —; e, pela primeira vez, me permiti sonhar um pouco. Até porque eu queria saber mais sobre você. Queria entendê-lo.
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E ser parte de você, da sua vida.
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— Então… — comecei, enquanto você literalmente ronronava contra mim.
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— Hm?
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— Quais os planos para o feriado?
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Você se contorceu contra mim, e soltou um suspiro pesado. Aparentemente, eu havia tocado em um tema sensível. Mesmo assim, você continuou abraçado comigo, com suas costas para mim; eu não conseguia ver sua expressão.
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— É complicado — você resmungou.
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— Tem algum tempo até o Natal — brinquei.
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Você suspirou, e ficamos em silêncio por um longo período, em que achei que você tinha caído no sono, mas sua voz voltou a falar, alta e clara.
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— Eu não me dou bem com o meu pai.
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Eu beijei seu ombro.
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— Somos dois, então.
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— Quid pro quo, então.
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Soltei uma risada, porque era típico seu. Você se afugentava das respostas, mas as queria do mesmo jeito. Era muito bom ver você também interessado em minha vida, nas minhas coisas. Me enchia de esperanças e estrelas.
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— Devo começar então?
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— Por favor, sr. Alex.
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Encostei a testa em seu ombro, e deixei as memórias virem; elas não eram fáceis, nem um pouco. E, no fundo, eu sabia que esse momento chegaria, contudo, era exatamente assim que eu o imaginava: em um local confortável e protegido, em que poderíamos despejar nossos sentimentos um no outro. Não era um filme, era normal;
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você fantasia demais, alex,
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e era isso que importava.
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— Não sei se mencionei que minha mãe é falecida.
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— Acho que sim. Mas não falou do que.
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— Foi um câncer de fígado, quando descobrimos já era tarde demais. Acabou morrendo muito rápido. Conheci Dave um pouco depois. Eu era babá dele, antes de ele ser “Dave”. Mas, no fundo, eu já sabia, porque ele não se encaixava em nada. Eu era um moleque na época, devia ter uns doze anos, mas andava com uma galera bem mais velha, e que não tinha uma ideia de futuro muito melhor do que ser trombadinha ou entrar para uma gangue. Meu pai ficava muito preocupado com isso, mas eu não sabia lidar com meus sentimentos.
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— Ah, por isso a tatuagem.
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— Foi uma estupidez. — Eu toquei meu rosto, uma constante memória dos erros que cometi contra as pessoas que eu amava.
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Você se virou para mim e, com os dedos esguios, traçou os contornos em minha bochecha com delicadeza e amor. Eu fechei os olhos e me permiti me deliciar com aquele contato.
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— E seu pai…?
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— Ele queria que eu frequentasse mais a igreja, especialmente porque eu estava levando o filho da amiga dele para o mau caminho. E lá vamos nós, as duas famílias para as missas dominicais. Era um tormento ter que me arrumar direitinho. Eu olhava para o teto e desejava que um meteoro caísse e acabasse com o meu tormento. Bem, aconteceu algo parecido.
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— Sério?
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— Nós sofremos um acidente de carro a serviço da igreja. Meu pai saiu com uma perna ruim, acho que ele ainda não consegue andar sem mancar. Eu saí sem nenhum arranhão. Dave e Kate ainda tem algumas cicatrizes.
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Pela sua expressão, era óbvio que era uma surpresa. Era o que geralmente as pessoas demonstravam quando você contava que aos catorze anos você sofreu um acidente de carro, mas…
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— Você não tem problema com isso?
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— Francamente, eu mal me lembro de tudo. Foi tudo tão rápido…
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não foi rápido
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doze horas dentro de ferragens
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o gotejar do combustível
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a mão de Dave segurando a minha
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por favor, não solte a minha mão
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não vou soltar
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nunca mais solte a minha mão
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— E foi ruim, não me entenda mal. Mas eu não consigo me lembrar de tudo com todos os detalhes. Foi há tanto tempo também.
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— Por causa do trauma que você não consegue lembrar?
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Dei de ombros.
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— E importa se eu consigo lembrar ou não? O que importa é que estou vivo, aqui, com você.
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Mas meus pensamentos foram até aquele homem, naquela casa ainda, com o cair de poeira em retratos e roupas ainda em guarda-roupas, uma casa imutável, parada no tempo.
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— Meu pai não reagiu da mesma maneira. Ele nunca conseguiu superar a morte da minha mãe, que era a melhor amiga dele, além de companheira. Eles tinham uma relação muito forte, invejável. Mas quando ela se foi, ele se perdeu. Ele ainda trabalha, faz uns bicos, mas ele passa a maior parte do tempo reclamando de um tempo que já se foi e que não vai voltar mais. E ele não consegue ver que seu filho está bem na sua frente, disposto a ter uma relação; ele é muito teimoso.
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Sua risada era preciosa.
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— Por que está rindo?
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— Seu pai deve ser igualzinho a você.
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— Ai, não, espero que não. Ele está ficando calvo, e eu ainda quero manter esta juba aqui… — E passei as mãos pelos meus cabelos ruivos, e você fez o mesmo, seu olhar brilhava contra os lençóis escuros. Era como se a própria lua cheia tivesse uma irmã e estivesse deitada em um manto de estrelas e escuridão. — E você?
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— Eu?
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— Sua família. Quid pro quo, pra citar Hannibal Lecter.
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Foram muitas reações em seu rosto, e vi o quanto era complicado para você. Mas, ao respirar fundo, você abriu a boca e a voz de anjos começou a falar dos problemas no paraíso.
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— Meus pais se divorciaram quando eu e Chase éramos mais novos. Tínhamos uns onze anos, acho. Meu pai ainda mora na mesma casa onde nasci, e minha mãe arranjou uma moradia na mesma rua, a rua das Margaridas. E embora minha mãe tivesse a guarda, eu escolhi ficar com o meu pai. Porque… eu fiquei do lado dele na briga. Minha mãe era paranoica, mexia no celular do meu pai, brigava com ele todas as vezes que ele recebia a mensagem de alguma amiga, quebrava coisas. Não foi uma época fácil para nós.
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“Chase ficou com minha mãe desde o princípio, e achou um absurdo eu ter tomado o partido do meu pai. Brigamos também. Ainda nos víamos na escola, mas não muito, tínhamos poucas matérias juntos. E, aos poucos, esqueci que sequer tinha um irmão gêmeo. Descobri um novo mundo, amigos, pessoas. Meu pai conheceu outra mulher, e se casou em pouco tempo. Ela tinha uma filha: Hayley.
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“Hayley é mais nova que nós, mas é a cara do meu pai. Tem os mesmos olhos azuis da família. Depois de um tempo, ficou inegável a semelhança e eu perguntei. Meu pai simplesmente respondeu:
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“Achei que você já soubesse.
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“E foi isso. Achei que você já soubesse. E nesse espiralar, eu definhei aos poucos. As brigas aumentaram. Eu percebi o erro que cometi, e tentei falar com minha mãe, mas ela ainda estava muito magoada. E Chase… eu tirei nós dois do armário quando meu pai me pegou em uma situação indelicada com um rapaz no meu quarto da casa dele. E devo dizer que meu pai é extremamente homofóbico. Não foi uma experiência boa. Ele me expulsou de casa, e por isso voltei a morar com a minha mãe. Mas ela ainda se ressente de mim, meu irmão está magoado, e eu não tenho uma casa, um lar de verdade.
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“Então o resumo é isso. Não tenho um lugar para o qual voltar, e frequentemente ando por aí”.
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— Foi aí que o hábito de dormir com pessoas aleatórias apareceu?
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Você deu de ombros. Justo.
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— Ao menos era um teto sobre minha cabeça.
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— E você vai passar o Natal com eles?
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— Acho que vou passar com a minha mãe. Eu sei que ela costuma dar uma festa do trabalho todos os anos, só que não sei o que ela fará este ano. Francamente, ainda não sei o que farei. Talvez apenas perambule por aí, olhando a neve.
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O que era uma visão muito triste de se ter. Você merecia mais. Muito mais do que tudo aquilo que aquelas pessoas poderiam te oferecer.
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Uma ideia me acometeu.
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Uma ideia profana.
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— Fique aqui.
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— Você vai me abandonar também? — você fez um muxoxo.
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— Acalme-se, padawan. Tudo a seu tempo.
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E vasculhando minhas gavetas, achei a joia perdida.
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— Abra as mãos.
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— O quê?
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— Abra.
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Sem entender, você fez uma concha com as mãos, e eu entreguei-a: profana, maldita, amaldiçoada, e completamente metálica. Uma diminuta chave.
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o sinal
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— O que é isso?
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— Achei que fosse mais esperto que isso, Jesse.
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Você arregalou os olhos.
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— Você está me dando uma chave para o seu apartamento? Alex…
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— Olha, eu sei que a gente se conhece tem pouco tempo, mas… eu não quero que seja porque é romântico. Eu quero que você sinta que, mesmo que não exista lugar para você retornar, você sempre pode voltar pra cá. Eu estarei esperando; e se eu não estiver aqui, eu virei correndo te encontrar. Isso eu posso prometer, acima de tudo. Eu te amo, Jesse.
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Sua boca estava aberta, o que era bem cômico, mas seus olhos se encheram de gratidão e lágrimas; vi você me puxar para o abraço mais terno que já me envolveu na vida. Eu o acolhi, e juntos, abraçados, demos às boas-vindas ao inverno, à paixão, e, depois, ao sono dos justos.
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Quando acordei, você não estava mais lá, mas tinha um motivo desenhado em um bilhete ao lado do meu celular morto. Eu estava definitivamente precisando de um novo; e depois de colocá-lo para carregar, eu me deliciei passando um café enquanto lia e relia aquele pedacinho de papel.
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Jesse: Não vá acordar muito tarde!! Depois nos vemos, tá? Me manda mensagem quando você acordar, seu dorminhoco. Amo você.
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E aquilo era o suficiente para alimentar mil Sóis de tão precioso. Eu queria emoldurar e colocar na parede, apenas para poder olhar aquele pedaço de papel todos os dias.
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Quem diria, Alex Morris, completamente de quatro por um macho com metade da altura dele, mas que tinha roubado meu coração de forma completa e irredutível.
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Era isso o que chamavam de amor?
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Se fosse, eu nunca tinha sentido com qualquer outra pessoa. Eu estava nas nuvens, e não queria deixar de ter aquela sensação nunca. Queria sentir mais da sua pele, sentir como você se tocava contra mim; e cada memória era um raio de sol a afugentar o frio do inverno.
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Meu celular finalmente ligou, e eu encarei a realidade com sofreguidão. Enquanto recebia as atualizações do dia, terminei meu café, e deixei a xícara em cima do balcão. Foi bom que eu o fiz, porque a mensagem que apareceu em negrito, além de todas as chamadas perdidas, foi o suficiente para me fazer ter um ataque de pânico.
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Samuel: Alex, o Dave foi para a sua casa? Ele não apareceu para nosso encontro…
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E antes que eu pudesse dizer algo, eu sabia que alguma merda tinha acontecido.
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Cheguei em casa depois do trabalho, e o lugar estava em silêncio mais uma vez. Nama não deveria estar em casa, e, sinceramente, era melhor assim. Poder evitar o inevitável mais uma vez era uma possibilidade muito boa. E, aos poucos, era assim que nós vivíamos: empurrando os problemas montanha acima, esperando que nunca viria o ponto em que teríamos que lidar com eles ladeira abaixo.
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Quando andei pelas escadas, consegui ouvir o barulho distinto de videogames sendo jogados, e eu sabia que Chase estava em casa; ele sempre parecia estar em casa nos momentos errados e em que eu queria paz.
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Mas talvez…
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Eu quisesse falar com ele dessa vez.
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Aproximei-me da sua porta e dei duas batidinhas. Esperei ele responder, mas não veio nenhuma resposta, então comecei a ir em direção ao meu quarto quando a porta se abriu de repente.
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— Que foi, mãe… ah, Jesse! Que susto! Achei que era a mamãe! — Ele sorriu ao me ver. — Está voltando da casa do Alex?
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— Do trabalho — resmunguei. Mas então…
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Por que não dar um voto de confiança?
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Por que não tentar mais uma vez?
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— E eu dormi na casa dele sim.
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O sorriso dele aumentou, se é que isso era possível.
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— As coisas estão ficando sérias, né?
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Eu senti meu rosto corar, e nem consegui elaborar uma resposta direito, porque estava completamente envergonhado. Apenas assenti, o que pareceu apenas encorajar o engodo do meu irmão ainda mais.
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— Entendo, entendo. Você gosta dele, né?
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— …Muito.
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— Quê? Mesmo?! — E Chase me segurou pelos ombros. — Isso é um milagre! Você se apaixonar por alguém!
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beijos trocados debaixo do edredom
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promessas
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— É, acho que sim. — Dei de ombros.
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— Isso é fantástico! Vamos sair em um encontro duplo, eu e Mitchell, você e Alex!
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— Não é para tanto, Chase… — Mas fiquei me perguntando se não era justo o tipo de breguice que faria Alex superfeliz, então fiquei inclinado a aceitar.
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Meu celular começou a vibrar no bolso, e eu sorri ao ver quem era.
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— Ah, é ele? Atende, atende! Vamos chamá-lo!
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— Chase… oi, Alex, como você está? Dormiu bem?
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— Jesse… o Dave sumiu. Eu não sei onde ele está. Ele não está em lugar nenhum.
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E eu olhei para o meu irmão, sem saber o que fazer, o celular e os planos para o encontro completamente esquecidos.
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