capítulo 1
uma conversa em maio
Eu vi você cair. Diversas e diversas vezes, contra um céu de estrelas flutuantes. Suas mãos buscaram o vazio e alcançaram as imagens refletidas das folhas de outono. Seu corpo atingiu as águas geladas, e seu fôlego, roubado pela correnteza.
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Eu vi você cair.
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Demoraria para acharem você, eu pensava ao acordar. Seu rosto pálido e arroxeado provaria que não foi o frio de novembro que matou você. Não, fomos nós.
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Fomos todos nós.
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Admito que a realidade me assombra mais do que os sonhos. A ignorância não é uma benção. Por muito tempo, quis penetrar os segredos de sua mente, tentar entrar em seu imo e permanecer lá aquecendo-me junto à sua solidão. E, no embalo de seu frêmito, entendê-lo por inteiro.
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Num abrir de olhos, o mar me encontrou do lado frio de minha cama; azul gelo corta tudo que vejo.
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— Você me culpa? — sussurro para a escuridão, quebrada pelos primeiros raios dessa manhã fria de maio.
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Sua falta de resposta dói mais que uma afirmativa. Apenas olhos azuis, os quais eu tanto amo, me encaram de volta. Você veio até mim na escuridão do quarto, sentou-se em minha cama e apenas esperou.
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—Você se lembra?
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Sim, as imagens frescas como o sangue em minhas mãos. As memórias ecoam pela catedral de meu coração, e ressoam no altar que ergui para você. Melodias singelas clamam erros e meias verdades. Sua voz sussurra clemências, enquanto a minha grita para ser compreendida. A canção da dúvida se propaga pela abadia e entoa palavras de salvação. Quem foi o culpado? Você, por decidir? Ou eu, por levá-lo a isso? Há muito que eu queria ter dito e feito, mas, agora, só me restam os sonhos.
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E um desejo.
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Só que isso eu já acho impossível.
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